Por Folha de São Paulo
País tem 2.700 publicações, mais que EUA e China juntos; queda do analfabetismo e aumento de renda explicam alta
Britânicos criam versão local do "Daily Mail'; diários em inglês ainda têm mais prestígio e mais anunciantes
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A NOVA DÉLI
Os distribuidores de jornais na Índia, que carregam centenas de exemplares em bicicletas e são reconhecidos pela pontaria com que distribuem seu produto, andam com trabalho extra.
A indústria jornalística da Índia já tem mais jornais que Estados Unidos e China juntos. Seus 2.700 jornais representam 40% mais títulos que em 2005.
A publicidade cresceu 45% em 2010, o faturamento médio cresceu 13% nos últimos cinco anos e chegou a US$ 3,8 bilhões (em 2014, deve saltar para US$ 6 bilhões).
"A renda e a alfabetização da população estão subindo e ler jornal dá um status que a TV não dá", diz o editor-chefe do terceiro maior diário do país, "The Hindu", Siddarth Varadarajan. "Vamos crescer por mais 30 anos."
O analfabetismo na Índia ainda é de 37% (no Brasil, é de 9,5%) e 20% são analfabetos funcionais. Mas, há 30 anos, 70% dos indianos eram analfabetos. O PIB do país cresceu 2,5 vezes na última década. Só os 20 maiores diários vendem 40 milhões de exemplares por dia.
O potencial atraiu investidores internacionais para aproveitar a bonança. O tabloide britânico "Daily Mail" criou sua versão indiana em parceria com o grupo local India Today, com investimento de US$ 15 milhões. Com 48 páginas, em inglês, tem uma tiragem diária de 200 mil exemplares. Para não ferir a sensibilidade local, as mulheres despidas do original britânico foram substituídas por astros de Bollywood e do críquete indiano. "Há espaço para vários formatos, pois o leitor indiano quer novidades. É a geração do primeiro jornal", diz Manoj Joshi, editor do "Daily Mail India".
Outras mídias vivem boom semelhante. O país já tem 72 milhões de assinantes de TV a cabo, ante 1,2 milhão em 1992. Proporcionalmente, já com mais penetração que no Brasil, onde os assinantes são 10 milhões. Com a expansão da telefonia celular -há 700 milhões de celulares no país-, os jornais têm usado as mensagens instantâneas para enviar notícias e publicidade.
Os principais jornais do país são vendidos a 4 rupias (o equivalente a R$ 0,15) e se sustentam totalmente na publicidade, atrás dessas tiragens milionárias.
Os jornais são bastantes simples, com fotos pequenas e design acanhado. Têm, no máximo, dois ou três cadernos e poucos correspondentes no exterior. Fofocas sobre os astros de Bollywood, a indústria de cinema local, ocupam boa parte do noticiário.
Em um país ainda muito pobre, com uma renda per capita que é um terço da brasileira, batalhões de catadores de papel recolhem jornais velhos e vendem às empresas jornalísticas, que reciclam o papel-jornal. Há poucas bancas. Redes de entregadores distribuem os jornais, sempre por assinatura, nas maiores cidades do país (não há uma distribuição nacional).
Há uma hierarquia jornalística no país. Apesar de ter tiragens mais modestas, os jornais em inglês são os que dominam a publicidade e cobram os anúncios mais caros, por chegar às elites do país e à massa mais educada.
Com uma circulação de 4 milhões, o "Times of India" é o maior jornal em inglês do mundo. Mas, no país, ele é apenas o 11º em circulação. Como um exemplar é lido por mais de uma pessoa, estima-se que 13 milhões leiam o "Times" diariamente.
Mas os jornais que mais crescem são os das outras 22 línguas oficiais do país, fora do eixo Nova Déli-Mumbai.
A circulação de jornais em hindi, idioma mais falado do país, triplicou em 15 anos, chegando a 25 milhões no ano passado. Outros em tamil e bengali seguem a mesma ascensão.
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